Escrevo-te para devolver tudo o que não deste
Escrevo-te do lugar onde nos encontrámos e separámos.A velha estação de comboio,à beira das árvores despidas pelo vento,ao cair da tarde,ao cair de Setembro.O comboio que te trouxe e levou.
Escrevo-te daqui,do lugar onde disseste: ficarei para
sempre.E partiste.A marca da despedida na última página do teu
diário.Do lugar onde estragámos a festa,espantámos a
caça,atrapalhámos o trânsito.O lugar onde nos encontrámos e
separámos: o Outono.Escrevo-te do lugar onde marcámos o nosso
desencontro.
Íamos de viagem e o comboio parou,durante dois anos,na estação mais
sinistra do percurso.Ficámos ali sozinhos no centro do nada.Onde
está o maquinista,os outros passageiros?Nenhuma explicação,ninguém a
quem apresentar queixa.
Encalhámos no Outono.Conhecemo-nos em Julho e já era Outubro.Nunca
saímos do Outono.Não houve Primaveras nem Verões nos anos do nosso
amor.Ficámos suspensos a ver as árvores despirem-se.Olhei-
te,confundido: porque nos atiraste para aqui?
Mas tu eras muito jovem e não ouvias.Estavas deslumbrada com a tua
força.Paraste o mundo no Outono.
Ergueste uma barreira e conseguiste deter o próprio movimento do
planeta.Uma barreira de mentiras e ardis,de perfídias e
cobardias,acinte e frio e vazio,tu gostavas de brincar com palavras
com muitos iis.
Escrevo-te do lugar onde humilhámos o Universo.
Para te devolver tudo.As carícias que esqueceste.As cartas que não
escreveste.E as que nunca abriste.
Escrevo-te para devolver tudo o que não deste.E as horas de
desespero,de olhos fechados em frente ao mar.A espera inexorável e
mesquinha,junto ao telefone.Escrevo-te para devolver a marca de
esperança louca,na última página do meu diário.Escrevo-te.Para
devolver o Outono.
Paulo Moura,in Revista Pública
12 comentários:
depois de um vídeo daqueles...Uma pessoa fica a pensar pá!Serás bipolar?
na,na,não!apolar vai melhor comigo...
mas às vezes babo-me quando durmo.será isso uma bipolaridade degenerada?
acho que isso é só das bebedeiras...
olha
olha
Este texto...
Conheço-o...
De outras Primaveras....
Abraço negro
Palavras de outros, sentimentos próprios... ou então devias passar menos tempo no troika, o cheiro a fritos fode o cerebro todo a um gajo...
Perfeitinho que chega a ser bonito
os outonos...de onde se espera a queda das folhas para dar lugar daí a uns meses a flores e frutos...poderá pensar-se que é onde tudo acaba...cá por mim senti que é onde tudo começa...
beijinho
Oi Feijoeiro,
espero que tenhas gostado das nossas belíssimas capas de disco! ;)
Obrigada pela tua visita :)
Entretanto, vou-te cuscar a casa.
p.s.. boa banda sonora! Viste-o em Coimbra?
gostar gostar,gostei mais das cartas!mas as capas tb são qq coisa.
esta casa está aberta para si 24h,e tudo num dia.
p.s.não o vi mas queria muito trocar umas ideias com ele...
Lindo...nunca te vi como um romãntico especialmente depois das sessões do Odisseia a ressonar para o tecto mas afinal...tavas a pensar no Outono. És um coração mole... :)
Bom calendario, da-me um pra por no camion
Desaparecido :p
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